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domingo, 17 de março de 2013

Smoke and mirrors

O cigarro nos traz conteúdos inconscientes importantes da vida. É muito mais do que um mero tragar. Fumar é buscar uma reafirmação da existência. Vejamos o fogo, a brasa a queimar, fascínio humano desde os antigos, símbolo dos rituais e do caráter mágico. O fogo é tão importante que no mito de Prometeu, esse rouba o elemento sagrado dos Deuses para dar aos humanos, e os deuses enfurecidos o castigaram eternamente. A morte é considerada de textura fria, o fogo simboliza a vida, podemos sentir e percebê-lo como fonte de energia. Acendendo um palito de fósforo, a nível inconsciente, voltamos a nossos ancestrais, a sua relação mágica do fogo, que afastava o perigo da noite fria e animalesca da vida pré civilizatória;

E o que falar da fumaça? Tão misteriosa quanto o fogo! O cenário cinematográfico americano usou muito bem o poder do mistério que gira em torno disso. Quem não se lembra da sensualidade das atrizes expelindo a fumaça que emanava dos cigarros para demonstrar ao mundo seu novo direito de liberdade, contra uma sociedade machista e patriarcal.

E o processo de fumar que nos remete a vida, a sua transição para a morte. No início a explosão, sua duração sendo apreciada até que se chegue aquilo que finda todo o processo - As cinzas do fim. E quantas coisas tentamos agarrar da vida e ela some em meio aos nossos dedos, como fumaça?

E porque não dizermos que o cigarro corresponde a uma volta a o colo da mãe, uma fuga do mundo moderno, inconscientemente, que nos leva até um momento de tranquilidade das nossas vidas. Por isso tantas pessoas dizem que os cigarros as deixam tranquilas, menos ansiosas.

Mário Quintana já diria: Fumar é um jeito discreto de ir queimando as ilusões perdidas.

Em termos Freudianos, podemos dizer que sim! É uma volta ao momento em que fomos arremessados num mundo, mesmo ainda não estando preparados pra isso. Afinal, uma tartaruga ao nascer, biologicamente, já se encontra preparada, ela sabe que deve ir ao mar, ganhar o oceano. Nós, não! Nascemos, biologicamente desamparados, precisando de um Outro para nos guardar. O ato de fumar, então, é apenas um alívio diante dessa angústia chamada vida.